Mocidade homenageia professores a pedido de Elza Soares, a 'dona' do enredo
Carnavalesco Jack Vasconcelos usou como referência a biografia de Elza Soares, escrita por Zeca Camargo
Após uma passagem bem-sucedida pelo Paraíso do Tuiuti, Jack Vasconcelos assume a responsabilidade de tocar o barracão da Mocidade Independente de Padre Miguel. E este Carnaval tem uma peculiaridade especial: a verde e branca finalmente levará para a avenida o enredo dos sonhos de sua apaixonada legião de torcedores. Com "Elza Deusa Soares", a Mocidade levará para a Sapucaí a trajetória de uma das maiores cantoras da MPB e que também marcou sua carreira ao cantar, por vários anos, o samba da escola na avenida.
Apesar de ter sido vice-campeão em 2018, Jack terá, pela primeira vez, a incumbência de fazer um desfile de uma escola que almeja o campeonato. Nesta entrevista exclusiva, o carnavalesco fala de sua expectativa e dá detalhes do processo criativo do enredo da Mocidade. Ele revela o pedido de Elza para que professores sejam homenageados. "Achei muito bonita a preocupação dela com a educação. Ela, como homenageada, pensou no coletivo. A alma da Elza é muito materna e agregadora", destaca.
Você estreia em uma escola de peso, com torcida apaixonada e exigente e tradição de grandes carnavalescos. E veio realizar o enredo dos sonhos do torcedor. Como lida com a responsabilidade?
Eu aceitei o convite e sabia que seria tudo isso mesmo (risos). Levar para a avenida um enredo sobre a Elza faz sentido com tudo que fiz em minha carreira, por todas as dificuldades que eu superei e por tudo que ela já venceu. O enredo já estava aqui antes de mim, mas a escola me deixou muito livre com a pesquisa e o desenvolvimento. É um Carnaval diferente dos que tenho feito porque me sinto uma ferramenta para que o sonho de fazer a Elza seja concretizado. Estou aqui para edificar um sonho como um padre convidado a realizar um casamento. E essa responsabilidade é gostosa.
Você sempre foi muito autoral e cuida de todos os detalhes do seu trabalho. Porém, esta foi a primeira vez que não escreveu a sinopse do enredo. O que mudou?
Pois é, isso era inimaginável. Eu abri mão do prazer de escrever por esse ser um ano fora da curva em todos os aspectos. Esse enredo é mais da Mocidade do que meu. Eu quis agregar todos que queriam somar neste processo, e chamar o Fábio Fabato (jornalista e ex-diretor da escola) fez todo o sentido, por ser uma pessoa que batalhou muito para que o enredo acontecesse. O texto tinha que ter a mão de um independente apaixonado. E foi uma experiência muito enriquecedora. Uma das coisas de que mais gosto na minha profissão é elaborar o enredo e abri mão desse prazer por conta do projeto. Eu precisava da paixão e do arrebatamento do Fabato para passar aos compositores. E deu supercerto.
Tanto que o samba é um dos mais elogiados da safra.
Exatamente. Toda essa mensagem que queríamos passar na sinopse foi para o samba. Os compositores entenderam. O samba vai deixar claro para as pessoas o sentimento do tema.
Qual sua relação com o universo de Elza Soares antes do enredo? Você já era fã dela?
Independentemente de ser fã ou não, aprendi com o tempo que quando achamos que sabemos muito sobre algo, a gente não sabe nada. Me comportei como se a estivesse conhecendo agora. E passei a descobri-la. O artista precisa desse mergulho e não dá para nadar de roupa. A história de Elza tem muitas passagens, e a mulher sempre esteve muito à mostra na profissão. Foi muito legal ver que os acertos e erros da artista e da mulher são reflexo uma da outra.
Como foi transformar em alegorias e fantasias essa vitalidade e empoderamento da Elza?
Esse é o Carnaval de linguagem mais urbana que fiz na vida. O enredo tem uma contemporaneidade muito forte, já que Elza é uma pessoa do tempo dela. Ela não é nada saudosista, é sempre muito ligada no que acontece no mundo e sempre pensa nos próximos passos que dará. Isso me contagiou. É um visual que eu tive que estudar, algumas linguagens que não são muito habituais do meu trabalho. Tudo que um artista não quer é se repetir.
Durante o desenvolvimento do enredo você não teve a oportunidade de conversar com a Elza - só o fez recentemente. Quando ela viu o projeto, aprovou ou fez alguma alteração?
O mergulho foi tão forte que, quando ela viu, gostou de tudo. Na verdade, tive uma boa referência que foi a biografia dela, escrita pelo Zeca Camargo, e o livro é muito fiel. Ela fez um único pedido no final: para que homenageássemos os professores. O faremos no final do desfile com a ala dos compositores. Achei muito bonita a preocupação dela com a educação. Ela, como homenageada, pensou no coletivo. A alma da Elza é muito materna e agregadora.
Pela primeira vez você está em uma escola que entra na avenida com a expectativa de brigar pelo campeonato. Isso te assusta?
Se eu pensar nisso eu nem saio de casa. Tenho muito orgulho de estar na Mocidade. Toda a pessoa na faixa dos 40 anos e viu Renato Lage e Fernando Pinto nesta escola tem a Mocidade como uma baita referência no mundo do samba.
Como você vê a situação do Carnaval, com todas as dificuldades e, neste cenário, uma nova geração de carnavalescos surgindo?
Me vejo meio como um adolescente nesta, porque não tenho a idade dos mais veteranos e sou mais velho do que esta garotada que está chegando. É natural que isso aconteça e é necessário que venham novas cabeças. Na verdade, isso já deveria ter ocorrido. Alguns colegas que despontaram antes não tiveram essa oportunidade por medo das escolas em contratar alguém de escola pequena. Mas ainda tem muita gente boa para ser resgatada.
O Carnaval hoje adquiriu o viés politizado e você foi peça fundamental nisso em 2018 no Paraíso do Tuiuti. Elza também é uma personagem engajada. Teremos pitadas de crítica política no desfile da Mocidade?
Teremos, mas não de uma forma gratuita. Acho que muita coisa precisa ser dita, mas tem que ser natural ao tema. Estamos em um momento em que muitas coisas têm que ser faladas e temos que aproveitar o espaço de mídia que dispomos. A escola de samba é um reflexo do momento que a sociedade vive. A população quer que falemos, ela quer ver. E a Mocidade vai fazer porque faz todo sentido e está dentro das experiências de vida da Elza. O lema dela é: "existir é resistir". E isso mostraremos na avenida.
Mocidade homenageia professores a pedido de Elza Soares, a 'dona' do enredo
Carnavalesco Jack Vasconcelos usou como referência a biografia de Elza Soares, escrita por Zeca Camargo
Após uma passagem bem-sucedida pelo Paraíso do Tuiuti, Jack Vasconcelos assume a responsabilidade de tocar o barracão da Mocidade Independente de Padre Miguel. E este Carnaval tem uma peculiaridade especial: a verde e branca finalmente levará para a avenida o enredo dos sonhos de sua apaixonada legião de torcedores. Com "Elza Deusa Soares", a Mocidade levará para a Sapucaí a trajetória de uma das maiores cantoras da MPB e que também marcou sua carreira ao cantar, por vários anos, o samba da escola na avenida.
Apesar de ter sido vice-campeão em 2018, Jack terá, pela primeira vez, a incumbência de fazer um desfile de uma escola que almeja o campeonato. Nesta entrevista exclusiva, o carnavalesco fala de sua expectativa e dá detalhes do processo criativo do enredo da Mocidade. Ele revela o pedido de Elza para que professores sejam homenageados. "Achei muito bonita a preocupação dela com a educação. Ela, como homenageada, pensou no coletivo. A alma da Elza é muito materna e agregadora", destaca.
Você estreia em uma escola de peso, com torcida apaixonada e exigente e tradição de grandes carnavalescos. E veio realizar o enredo dos sonhos do torcedor. Como lida com a responsabilidade?
Eu aceitei o convite e sabia que seria tudo isso mesmo (risos). Levar para a avenida um enredo sobre a Elza faz sentido com tudo que fiz em minha carreira, por todas as dificuldades que eu superei e por tudo que ela já venceu. O enredo já estava aqui antes de mim, mas a escola me deixou muito livre com a pesquisa e o desenvolvimento. É um Carnaval diferente dos que tenho feito porque me sinto uma ferramenta para que o sonho de fazer a Elza seja concretizado. Estou aqui para edificar um sonho como um padre convidado a realizar um casamento. E essa responsabilidade é gostosa.
Você sempre foi muito autoral e cuida de todos os detalhes do seu trabalho. Porém, esta foi a primeira vez que não escreveu a sinopse do enredo. O que mudou?
Pois é, isso era inimaginável. Eu abri mão do prazer de escrever por esse ser um ano fora da curva em todos os aspectos. Esse enredo é mais da Mocidade do que meu. Eu quis agregar todos que queriam somar neste processo, e chamar o Fábio Fabato (jornalista e ex-diretor da escola) fez todo o sentido, por ser uma pessoa que batalhou muito para que o enredo acontecesse. O texto tinha que ter a mão de um independente apaixonado. E foi uma experiência muito enriquecedora. Uma das coisas de que mais gosto na minha profissão é elaborar o enredo e abri mão desse prazer por conta do projeto. Eu precisava da paixão e do arrebatamento do Fabato para passar aos compositores. E deu supercerto.
Tanto que o samba é um dos mais elogiados da safra.
Exatamente. Toda essa mensagem que queríamos passar na sinopse foi para o samba. Os compositores entenderam. O samba vai deixar claro para as pessoas o sentimento do tema.
Qual sua relação com o universo de Elza Soares antes do enredo? Você já era fã dela?
Independentemente de ser fã ou não, aprendi com o tempo que quando achamos que sabemos muito sobre algo, a gente não sabe nada. Me comportei como se a estivesse conhecendo agora. E passei a descobri-la. O artista precisa desse mergulho e não dá para nadar de roupa. A história de Elza tem muitas passagens, e a mulher sempre esteve muito à mostra na profissão. Foi muito legal ver que os acertos e erros da artista e da mulher são reflexo uma da outra.
Como foi transformar em alegorias e fantasias essa vitalidade e empoderamento da Elza?
Esse é o Carnaval de linguagem mais urbana que fiz na vida. O enredo tem uma contemporaneidade muito forte, já que Elza é uma pessoa do tempo dela. Ela não é nada saudosista, é sempre muito ligada no que acontece no mundo e sempre pensa nos próximos passos que dará. Isso me contagiou. É um visual que eu tive que estudar, algumas linguagens que não são muito habituais do meu trabalho. Tudo que um artista não quer é se repetir.
Durante o desenvolvimento do enredo você não teve a oportunidade de conversar com a Elza - só o fez recentemente. Quando ela viu o projeto, aprovou ou fez alguma alteração?
O mergulho foi tão forte que, quando ela viu, gostou de tudo. Na verdade, tive uma boa referência que foi a biografia dela, escrita pelo Zeca Camargo, e o livro é muito fiel. Ela fez um único pedido no final: para que homenageássemos os professores. O faremos no final do desfile com a ala dos compositores. Achei muito bonita a preocupação dela com a educação. Ela, como homenageada, pensou no coletivo. A alma da Elza é muito materna e agregadora.
Pela primeira vez você está em uma escola que entra na avenida com a expectativa de brigar pelo campeonato. Isso te assusta?
Se eu pensar nisso eu nem saio de casa. Tenho muito orgulho de estar na Mocidade. Toda a pessoa na faixa dos 40 anos e viu Renato Lage e Fernando Pinto nesta escola tem a Mocidade como uma baita referência no mundo do samba.
Como você vê a situação do Carnaval, com todas as dificuldades e, neste cenário, uma nova geração de carnavalescos surgindo?
Me vejo meio como um adolescente nesta, porque não tenho a idade dos mais veteranos e sou mais velho do que esta garotada que está chegando. É natural que isso aconteça e é necessário que venham novas cabeças. Na verdade, isso já deveria ter ocorrido. Alguns colegas que despontaram antes não tiveram essa oportunidade por medo das escolas em contratar alguém de escola pequena. Mas ainda tem muita gente boa para ser resgatada.
O Carnaval hoje adquiriu o viés politizado e você foi peça fundamental nisso em 2018 no Paraíso do Tuiuti. Elza também é uma personagem engajada. Teremos pitadas de crítica política no desfile da Mocidade?
Teremos, mas não de uma forma gratuita. Acho que muita coisa precisa ser dita, mas tem que ser natural ao tema. Estamos em um momento em que muitas coisas têm que ser faladas e temos que aproveitar o espaço de mídia que dispomos. A escola de samba é um reflexo do momento que a sociedade vive. A população quer que falemos, ela quer ver. E a Mocidade vai fazer porque faz todo sentido e está dentro das experiências de vida da Elza. O lema dela é: "existir é resistir". E isso mostraremos na avenida.
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