O
esforço pela inclusão social e escolar de pessoas com necessidades
especiais no Brasil é a resposta para uma situação que perpetuava a
segregação dessas pessoas e cerceava o seu pleno desenvolvimento. Até o
início do século 21, o sistema educacional brasileiro abrigava dois
tipos de serviços: a escola regular e a escola especial –
ou o aluno frequentava uma, ou a outra. Na última década, nosso sistema
escolar modificou-se com a proposta inclusiva e um único tipo de escola
foi adotado: a regular, que acolhe todos os alunos, apresenta meios e
recursos adequados e oferece apoio àqueles que encontram barreiras para a
aprendizagem.
A Educação inclusiva compreende
a Educação especial dentro da escola regular e transforma a escola em
um espaço para todos. Ela favorece a diversidade na medida em que
considera que todos os alunos podem ter necessidades especiais em algum
momento de sua vida escolar.
Há, entretanto,
necessidades que interferem de maneira significativa no processo de
aprendizagem e que exigem uma atitude educativa específica da escola
como, por exemplo, a utilização de recursos e apoio especializados para
garantir a aprendizagem de todos os alunos.
A Educação é um direito de todos e deve ser orientada no sentido do
pleno desenvolvimento e do fortalecimento da personalidade. O respeito
aos direitos e liberdades humanas, primeiro passo para a construção da
cidadania, deve ser incentivado.
Educação inclusiva, portanto, significa educar todas as crianças em um
mesmo contexto escolar. A opção por este tipo de Educação não significa
negar as dificuldades dos estudantes. Pelo contrário. Com a inclusão, as
diferenças não são vistas como problemas, mas como diversidade.
É essa variedade, a partir da realidade social, que pode ampliar a
visão de mundo e desenvolver oportunidades de convivência a todas as
crianças.
Preservar a diversidade apresentada na escola, encontrada na realidade
social, representa oportunidade para o atendimento das necessidades
educacionais com ênfase nas competências, capacidades e potencialidades
do educando.
Ao refletir sobre a abrangência do sentido e do significado do processo de Educação inclusiva, estamos considerando a diversidade de aprendizes e seu direito à equidade. Trata-se de equiparar oportunidades, garantindo-se a todos – inclusive às pessoas em situação de deficiência e aos de altas habilidades/superdotados, o direito de aprender a aprender, aprender a fazer, aprender a ser e aprender a conviver. (CARVALHO, 2005).
O que o Plano Nacional de Educação diz sobre a Educação inclusiva
Isac Oliveira Souza aprendendo ler na lousa braile, na sala de recursos da EE Dom Jayme de Barros.
No Brasil, a regulamentação mais recente que norteia a organização do
sistema educacional é o Plano Nacional de Educação (PNE 2011-2020). Esse
documento, entre outras metas e propostas inclusivas, estabelece a nova função da Educação especial como modalidade de ensino que perpassa todos os segmentos da escolarização (da Educação Infantil ao ensino superior); realiza o atendimento educacional especializado (AEE); disponibiliza os serviços e recursos próprios do AEE e orienta os alunos e seus professores quanto à sua utilização nas turmas comuns do ensino regular.
O PNE considera público alvo da Educação especial na perspectiva da
Educação inclusiva, educandos com deficiência (intelectual, física,
auditiva, visual e múltipla), transtorno global do desenvolvimento (TGD)
e altas habilidades.
Se o aluno apresentar necessidade específica, decorrente de suas
características ou condições, poderá requerer, além dos princípios
comuns da Educação na diversidade, recursos diferenciados identificados
comonecessidades educacionais especiais (NEE).
O estudante poderá beneficiar-se dos apoios de caráter especializado,
como o ensino de linguagens e códigos específicos de comunicação e
sinalização, no caso da deficiência visual e auditiva; mediação para o desenvolvimento de estratégias de pensamento, no caso da deficiência intelectual; adaptações do material e do ambiente físico, no caso da deficiência física; estratégias diferenciadas para adaptação e regulação do comportamento, no caso do transtorno global; ampliação dos recursos educacionais e/ou aceleração de conteúdos para altas habilidades.
A Educação inclusiva tem sido um caminho importante para abranger a
diversidade mediante a construção de uma escola que ofereça uma proposta
ao grupo (como um todo) ao mesmo tempo em que atenda às necessidades de
cada um, principalmente àqueles que correm risco de exclusão em termos
de aprendizagem e participação na sala de aula.
Além de ser um direito, a Educação inclusiva é uma resposta inteligente às demandas do mundo contemporâneo. Incentiva uma pedagogia não homogeneizadora e desenvolve competências interpessoais. A sala de aula deveria espelhar a diversidade humana, não escondê-la. Claro que isso gera novas tensões e conflitos, mas também estimula as habilidades morais para a convivência democrática. O resultado final, desfocado pela miopia de alguns, é uma Educação melhor para todos. (MENDES, 2012).
O que significa ter um projeto pedagógico inclusivo?
As barreiras que podem impedir o acesso de alguns alunos ao ensino e à
convivência estão relacionadas a diversos componentes e dimensões da
escolarização. Ocorrem, também, impedimentos na ação dos educadores.
Vejamos os principais pontos revelados na experiência com educadores no
exercício da Educação inclusiva, para todos.
Educadores reconhecem, cada vez mais, a diversidade humana e as
diferenças individuais que compõem seu grupo de alunos e se deparam com a
urgência de transformar o sistema educacional e garantir um ensino de
qualidade para todos os estudantes. Não basta que a escola receba a
matrícula de alunos com necessidades educacionais especiais, é preciso
que ofereça condições para a operacionalização desse projeto pedagógico inclusivo.
A inclusão deve garantir a todas as crianças e jovens o acesso à
aprendizagem por meio de todas as possibilidades de desenvolvimento que a
escolarização oferece.
As mudanças são imprescindíveis, dentre elas a reestruturação física,
com a eliminação das barreiras arquitetônicas; a introdução de recursos e
de tecnologias assistivas; a oferta de profissionais do ensino
especial, ainda em número insuficiente. Além da compreensão e
incorporação desses serviços na escola regular são necessárias
alternativas relativas à organização, ao planejamento e à avaliação do
ensino.
Outro ponto importante refere-se à formação dos professores para a inclusão.
A transformação de paradigma na Educação exige professores preparados
para a nova prática, de modo que possam atender também às necessidades
do ensino inclusivo. O saber está sendo construído à medida que as
experiências vão acumulando-se e as práticas anteriores vão sendo
transformadas. Por isso, a formação continuada tem um papel fundamental
na prática profissional.A inclusão de pessoas com necessidades especiais
faz parte do paradigma de uma sociedade democrática, comprometida com o
respeito aos cidadãos e à cidadania. Esse paradigma, na escola,
apresenta-se no projeto pedagógico que norteará sua ação, explicitará
sua política educacional, seu compromisso com a formação dos alunos,
assim como, com ações que favoreçam a inclusão social.
É o projeto pedagógico que orienta as atividades escolares revelando a
concepção da escola e as intenções da equipe de educadores. Com base no
projeto pedagógico a escola organiza seu trabalho; garante apoio
administrativo, técnico e científico às necessidades da Educação
inclusiva; planeja suas ações; possibilita a existência de propostas
curriculares diversificadas e abertas; flexibiliza seu funcionamento;
atende à diversidade do alunado; estabelece redes de apoio, que proporcionam a ação de profissionais especializados, para favorecer o processo educacional.
É na sala de aula que acontece a concretização do projeto pedagógico –
elaborado nos diversos níveis do sistema educacional. Vários fatores
podem influenciar a dinâmica da sala de aula e a eficácia do processo de
ensino e aprendizagem. Planejamentos que contemplem regulações
organizativas diversas, com possibilidades de adequações ou
flexibilizações têm sido uma das alternativas mais discutidas como opção
para o rompimento com estratégias e práticas limitadas e limitantes.
Flexibilização e adaptação curricular em favor da aprendizagem
Benjamin Saidon, aluno com síndrome de Down da Nova Escola Judaica Bialik Renascença, em São Paulo.
Para estruturar as flexibilizações na
escola inclusiva é preciso que se reflita sobre os possíveis ajustes
relativos à organização didática. Qualquer adaptação não poderá
constituir um plano paralelo, segregado ou excludente. As
flexibilizações e/ou adequações da prática pedagógica deverão estar a
serviço de uma única premissa: diferenciar os meios para igualar os
direitos, principalmente o direito à participação, ao convívio.
O desafio, agora, é avançar para uma maior valorização da diversidade sem ignorar o comum entre os seres humanos. Destacar muito o que nos diferencia pode conduzir à intolerância, à exclusão ou a posturas fundamentalistas que limitem o desenvolvimento das pessoas e das sociedades, ou, que justifiquem, por exemplo, a elaboração de currículos paralelos para as diferentes culturas, ou para pessoas com necessidades educacionais especiais. (BLANCO, 2009).
Além disso, para que o projeto inclusivo seja colocado em ação, há
necessidade de uma atitude positiva e disponibilidade do professor para
que ele possa criar uma atmosfera acolhedora na classe. A sala de aula
afirma ou nega o sucesso ou a eficácia da inclusão escolar, mas isso não
quer dizer que a responsabilidade seja só do professor. O professor não
pode estar sozinho, deverá ter uma rede de apoio, na escola e fora dela, para viabilizar o processo inclusivo.
Para crianças com necessidades educacionais especiais uma rede contínua de apoio deveria ser providenciada, com variação desde a ajuda mínima na classe regular até programas adicionais de apoio à aprendizagem dentro da escola e expandindo, conforme necessário, à provisão de assistência dada por professores especializados e pessoal de apoio externo. (Declaração de Salamanca, 1994).
Como formar redes de apoio à Educação inclusiva
Os sistemas de apoio começam na própria escola, na equipe e na gestão
escolar. O aluno com necessidades especiais não é visto como
responsabilidade unicamente do professor, mas de todos os participantes
do processo educacional. A direção e a coordenação pedagógica devem
organizar momentos para que os professores possam manifestar suas
dúvidas e angústias. Ao legitimar as necessidades dos docentes, a equipe
gestora pode organizar espaços para o acompanhamento dos alunos;
compartilhar entre a equipe os relatos das condições de aprendizagens,
das situações da sala de aula e discutir estratégias ou possibilidades
para o enfrentamento dos desafios. Essas ações produzem assuntos para
estudo e pesquisa que colaboram para a formação continuada dos
educadores.
A família compõe
a rede de apoio como a instituição primeira e significativamente
importante para a escolarização dos alunos. É a fonte de informações
para o professor sobre as necessidades específicas da criança. É
essencial que se estabeleça uma relação de confiança e cooperação entre a
escola e a família, pois esse vínculo favorecerá o desenvolvimento da
criança.
Profissionais da área de saúde que
trabalham com o aluno, como fisioterapeutas, psicopedagogos,
psicólogos, fonoaudiólogos ou médicos, também compõem a rede. Esses
profissionais poderão esclarecer as necessidades de crianças e jovens e
sugerir, ao professor, alternativas para o atendimento dessas
necessidades.
Na perspectiva da Educação inclusiva, os apoios centrais reúnem os serviços da Educação especial e o Atendimento Educacional Especializado (AEE).
São esses os novos recursos que precisam ser incorporados à escola. O
aluno tem direito de frequentar o AEE no período oposto às aulas. O
sistema público tem organizado salas multifuncionais ou
salas de apoio, na própria escola ou em instituições conveniadas, com o
objetivo de oferecer recursos de acessibilidade e estratégias para
eliminar as barreiras, favorecendo a plena participação social e o
desenvolvimento da aprendizagem.
Art. 1º. Para a implementação do Decreto no 6.571/2008, os sistemas de ensino devem matricular os alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação nas classes comuns do ensino regular e no Atendimento Educacional Especializado (AEE), ofertado em salas de recursos multifuncionais ou em centros de Atendimento Educacional Especializado da rede pública ou de instituições comunitárias, confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos; Art. 2º. O AEE tem como função complementar ou suplementar a formação do aluno por meio da disponibilização de serviços, recursos de acessibilidade e estratégias que eliminem as barreiras para sua plena participação na sociedade e desenvolvimento de sua aprendizagem; Parágrafo Único. Para fins destas Diretrizes, consideram-se recursos de acessibilidade na Educação aqueles que asseguram condições de acesso ao currículo dos alunos com deficiência ou mobilidade reduzida, promovendo a utilização dos materiais didáticos e pedagógicos, dos espaços, dos mobiliários e equipamentos, dos sistemas de comunicação e informação, dos transportes e dos demais serviços. (CNB/CNE, 2009).
Ainda que não apresente números consideráveis, a inclusão tem sido
incorporada e revela ações que podem ser consideradas práticas para
apoiar o professor. Ter um segundo professor na sala de aula, é um
exemplo, seja presente durante todas as aulas ou em alguns momentos, nas
mais diversas modalidades: intérprete, apoio, monitor ou auxiliar. Esse
professor poderá possuir formação específica, básica ou poderá ser um
estagiário. A participação do professor do AEE poderá ocorrer na
elaboração do planejamento e no suporte quanto à compreensão das
condições de aprendizagem dos alunos, como forma de auxiliar a equipe
pedagógica.
Outra atividade evidenciada pela prática inclusiva para favorecer o
educador é a adoção da práxis – no ensino, nas interações, no espaço e
no tempo – que relacione os diferentes conteúdos às diversas atividades
presentes no trabalho pedagógico. São esses procedimentos que irão
promover aos alunos a possibilidade de reorganização do conhecimento, à
medida que são respeitados os diferentes estilos e ritmos de
aprendizagem.
Vale ressaltar que a Educação inclusiva, como prática em construção,
está em fase de implementação. São muitos os desafios a serem
enfrentados, mas as iniciativas e as alternativas realizadas pelos
educadores são fundamentais. As experiências, agora, centralizam os
esforços para além da convivência, para as possibilidades de
participação e de aprendizagem efetiva de todos os alunos.
O
esforço pela inclusão social e escolar de pessoas com necessidades
especiais no Brasil é a resposta para uma situação que perpetuava a
segregação dessas pessoas e cerceava o seu pleno desenvolvimento. Até o
início do século 21, o sistema educacional brasileiro abrigava dois
tipos de serviços: a escola regular e a escola especial –
ou o aluno frequentava uma, ou a outra. Na última década, nosso sistema
escolar modificou-se com a proposta inclusiva e um único tipo de escola
foi adotado: a regular, que acolhe todos os alunos, apresenta meios e
recursos adequados e oferece apoio àqueles que encontram barreiras para a
aprendizagem.
A Educação inclusiva compreende
a Educação especial dentro da escola regular e transforma a escola em
um espaço para todos. Ela favorece a diversidade na medida em que
considera que todos os alunos podem ter necessidades especiais em algum
momento de sua vida escolar.
Há, entretanto,
necessidades que interferem de maneira significativa no processo de
aprendizagem e que exigem uma atitude educativa específica da escola
como, por exemplo, a utilização de recursos e apoio especializados para
garantir a aprendizagem de todos os alunos.
A Educação é um direito de todos e deve ser orientada no sentido do
pleno desenvolvimento e do fortalecimento da personalidade. O respeito
aos direitos e liberdades humanas, primeiro passo para a construção da
cidadania, deve ser incentivado.
Educação inclusiva, portanto, significa educar todas as crianças em um
mesmo contexto escolar. A opção por este tipo de Educação não significa
negar as dificuldades dos estudantes. Pelo contrário. Com a inclusão, as
diferenças não são vistas como problemas, mas como diversidade.
É essa variedade, a partir da realidade social, que pode ampliar a
visão de mundo e desenvolver oportunidades de convivência a todas as
crianças.
Preservar a diversidade apresentada na escola, encontrada na realidade
social, representa oportunidade para o atendimento das necessidades
educacionais com ênfase nas competências, capacidades e potencialidades
do educando.
Ao refletir sobre a abrangência do sentido e do significado do processo de Educação inclusiva, estamos considerando a diversidade de aprendizes e seu direito à equidade. Trata-se de equiparar oportunidades, garantindo-se a todos – inclusive às pessoas em situação de deficiência e aos de altas habilidades/superdotados, o direito de aprender a aprender, aprender a fazer, aprender a ser e aprender a conviver. (CARVALHO, 2005).
O que o Plano Nacional de Educação diz sobre a Educação inclusiva
Isac Oliveira Souza aprendendo ler na lousa braile, na sala de recursos da EE Dom Jayme de Barros.
No Brasil, a regulamentação mais recente que norteia a organização do
sistema educacional é o Plano Nacional de Educação (PNE 2011-2020). Esse
documento, entre outras metas e propostas inclusivas, estabelece a nova função da Educação especial como modalidade de ensino que perpassa todos os segmentos da escolarização (da Educação Infantil ao ensino superior); realiza o atendimento educacional especializado (AEE); disponibiliza os serviços e recursos próprios do AEE e orienta os alunos e seus professores quanto à sua utilização nas turmas comuns do ensino regular.
O PNE considera público alvo da Educação especial na perspectiva da
Educação inclusiva, educandos com deficiência (intelectual, física,
auditiva, visual e múltipla), transtorno global do desenvolvimento (TGD)
e altas habilidades.
Se o aluno apresentar necessidade específica, decorrente de suas
características ou condições, poderá requerer, além dos princípios
comuns da Educação na diversidade, recursos diferenciados identificados
comonecessidades educacionais especiais (NEE).
O estudante poderá beneficiar-se dos apoios de caráter especializado,
como o ensino de linguagens e códigos específicos de comunicação e
sinalização, no caso da deficiência visual e auditiva; mediação para o desenvolvimento de estratégias de pensamento, no caso da deficiência intelectual; adaptações do material e do ambiente físico, no caso da deficiência física; estratégias diferenciadas para adaptação e regulação do comportamento, no caso do transtorno global; ampliação dos recursos educacionais e/ou aceleração de conteúdos para altas habilidades.
A Educação inclusiva tem sido um caminho importante para abranger a
diversidade mediante a construção de uma escola que ofereça uma proposta
ao grupo (como um todo) ao mesmo tempo em que atenda às necessidades de
cada um, principalmente àqueles que correm risco de exclusão em termos
de aprendizagem e participação na sala de aula.
Além de ser um direito, a Educação inclusiva é uma resposta inteligente às demandas do mundo contemporâneo. Incentiva uma pedagogia não homogeneizadora e desenvolve competências interpessoais. A sala de aula deveria espelhar a diversidade humana, não escondê-la. Claro que isso gera novas tensões e conflitos, mas também estimula as habilidades morais para a convivência democrática. O resultado final, desfocado pela miopia de alguns, é uma Educação melhor para todos. (MENDES, 2012).
O que significa ter um projeto pedagógico inclusivo?
As barreiras que podem impedir o acesso de alguns alunos ao ensino e à
convivência estão relacionadas a diversos componentes e dimensões da
escolarização. Ocorrem, também, impedimentos na ação dos educadores.
Vejamos os principais pontos revelados na experiência com educadores no
exercício da Educação inclusiva, para todos.
Educadores reconhecem, cada vez mais, a diversidade humana e as
diferenças individuais que compõem seu grupo de alunos e se deparam com a
urgência de transformar o sistema educacional e garantir um ensino de
qualidade para todos os estudantes. Não basta que a escola receba a
matrícula de alunos com necessidades educacionais especiais, é preciso
que ofereça condições para a operacionalização desse projeto pedagógico inclusivo.
A inclusão deve garantir a todas as crianças e jovens o acesso à
aprendizagem por meio de todas as possibilidades de desenvolvimento que a
escolarização oferece.
As mudanças são imprescindíveis, dentre elas a reestruturação física,
com a eliminação das barreiras arquitetônicas; a introdução de recursos e
de tecnologias assistivas; a oferta de profissionais do ensino
especial, ainda em número insuficiente. Além da compreensão e
incorporação desses serviços na escola regular são necessárias
alternativas relativas à organização, ao planejamento e à avaliação do
ensino.
Outro ponto importante refere-se à formação dos professores para a inclusão.
A transformação de paradigma na Educação exige professores preparados
para a nova prática, de modo que possam atender também às necessidades
do ensino inclusivo. O saber está sendo construído à medida que as
experiências vão acumulando-se e as práticas anteriores vão sendo
transformadas. Por isso, a formação continuada tem um papel fundamental
na prática profissional.A inclusão de pessoas com necessidades especiais
faz parte do paradigma de uma sociedade democrática, comprometida com o
respeito aos cidadãos e à cidadania. Esse paradigma, na escola,
apresenta-se no projeto pedagógico que norteará sua ação, explicitará
sua política educacional, seu compromisso com a formação dos alunos,
assim como, com ações que favoreçam a inclusão social.
É o projeto pedagógico que orienta as atividades escolares revelando a
concepção da escola e as intenções da equipe de educadores. Com base no
projeto pedagógico a escola organiza seu trabalho; garante apoio
administrativo, técnico e científico às necessidades da Educação
inclusiva; planeja suas ações; possibilita a existência de propostas
curriculares diversificadas e abertas; flexibiliza seu funcionamento;
atende à diversidade do alunado; estabelece redes de apoio, que proporcionam a ação de profissionais especializados, para favorecer o processo educacional.
É na sala de aula que acontece a concretização do projeto pedagógico –
elaborado nos diversos níveis do sistema educacional. Vários fatores
podem influenciar a dinâmica da sala de aula e a eficácia do processo de
ensino e aprendizagem. Planejamentos que contemplem regulações
organizativas diversas, com possibilidades de adequações ou
flexibilizações têm sido uma das alternativas mais discutidas como opção
para o rompimento com estratégias e práticas limitadas e limitantes.
Flexibilização e adaptação curricular em favor da aprendizagem
Benjamin Saidon, aluno com síndrome de Down da Nova Escola Judaica Bialik Renascença, em São Paulo.
Para estruturar as flexibilizações na
escola inclusiva é preciso que se reflita sobre os possíveis ajustes
relativos à organização didática. Qualquer adaptação não poderá
constituir um plano paralelo, segregado ou excludente. As
flexibilizações e/ou adequações da prática pedagógica deverão estar a
serviço de uma única premissa: diferenciar os meios para igualar os
direitos, principalmente o direito à participação, ao convívio.
O desafio, agora, é avançar para uma maior valorização da diversidade sem ignorar o comum entre os seres humanos. Destacar muito o que nos diferencia pode conduzir à intolerância, à exclusão ou a posturas fundamentalistas que limitem o desenvolvimento das pessoas e das sociedades, ou, que justifiquem, por exemplo, a elaboração de currículos paralelos para as diferentes culturas, ou para pessoas com necessidades educacionais especiais. (BLANCO, 2009).
Além disso, para que o projeto inclusivo seja colocado em ação, há
necessidade de uma atitude positiva e disponibilidade do professor para
que ele possa criar uma atmosfera acolhedora na classe. A sala de aula
afirma ou nega o sucesso ou a eficácia da inclusão escolar, mas isso não
quer dizer que a responsabilidade seja só do professor. O professor não
pode estar sozinho, deverá ter uma rede de apoio, na escola e fora dela, para viabilizar o processo inclusivo.
Para crianças com necessidades educacionais especiais uma rede contínua de apoio deveria ser providenciada, com variação desde a ajuda mínima na classe regular até programas adicionais de apoio à aprendizagem dentro da escola e expandindo, conforme necessário, à provisão de assistência dada por professores especializados e pessoal de apoio externo. (Declaração de Salamanca, 1994).
Como formar redes de apoio à Educação inclusiva
Os sistemas de apoio começam na própria escola, na equipe e na gestão
escolar. O aluno com necessidades especiais não é visto como
responsabilidade unicamente do professor, mas de todos os participantes
do processo educacional. A direção e a coordenação pedagógica devem
organizar momentos para que os professores possam manifestar suas
dúvidas e angústias. Ao legitimar as necessidades dos docentes, a equipe
gestora pode organizar espaços para o acompanhamento dos alunos;
compartilhar entre a equipe os relatos das condições de aprendizagens,
das situações da sala de aula e discutir estratégias ou possibilidades
para o enfrentamento dos desafios. Essas ações produzem assuntos para
estudo e pesquisa que colaboram para a formação continuada dos
educadores.
A família compõe
a rede de apoio como a instituição primeira e significativamente
importante para a escolarização dos alunos. É a fonte de informações
para o professor sobre as necessidades específicas da criança. É
essencial que se estabeleça uma relação de confiança e cooperação entre a
escola e a família, pois esse vínculo favorecerá o desenvolvimento da
criança.
Profissionais da área de saúde que
trabalham com o aluno, como fisioterapeutas, psicopedagogos,
psicólogos, fonoaudiólogos ou médicos, também compõem a rede. Esses
profissionais poderão esclarecer as necessidades de crianças e jovens e
sugerir, ao professor, alternativas para o atendimento dessas
necessidades.
Na perspectiva da Educação inclusiva, os apoios centrais reúnem os serviços da Educação especial e o Atendimento Educacional Especializado (AEE).
São esses os novos recursos que precisam ser incorporados à escola. O
aluno tem direito de frequentar o AEE no período oposto às aulas. O
sistema público tem organizado salas multifuncionais ou
salas de apoio, na própria escola ou em instituições conveniadas, com o
objetivo de oferecer recursos de acessibilidade e estratégias para
eliminar as barreiras, favorecendo a plena participação social e o
desenvolvimento da aprendizagem.
Art. 1º. Para a implementação do Decreto no 6.571/2008, os sistemas de ensino devem matricular os alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação nas classes comuns do ensino regular e no Atendimento Educacional Especializado (AEE), ofertado em salas de recursos multifuncionais ou em centros de Atendimento Educacional Especializado da rede pública ou de instituições comunitárias, confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos; Art. 2º. O AEE tem como função complementar ou suplementar a formação do aluno por meio da disponibilização de serviços, recursos de acessibilidade e estratégias que eliminem as barreiras para sua plena participação na sociedade e desenvolvimento de sua aprendizagem; Parágrafo Único. Para fins destas Diretrizes, consideram-se recursos de acessibilidade na Educação aqueles que asseguram condições de acesso ao currículo dos alunos com deficiência ou mobilidade reduzida, promovendo a utilização dos materiais didáticos e pedagógicos, dos espaços, dos mobiliários e equipamentos, dos sistemas de comunicação e informação, dos transportes e dos demais serviços. (CNB/CNE, 2009).
Ainda que não apresente números consideráveis, a inclusão tem sido
incorporada e revela ações que podem ser consideradas práticas para
apoiar o professor. Ter um segundo professor na sala de aula, é um
exemplo, seja presente durante todas as aulas ou em alguns momentos, nas
mais diversas modalidades: intérprete, apoio, monitor ou auxiliar. Esse
professor poderá possuir formação específica, básica ou poderá ser um
estagiário. A participação do professor do AEE poderá ocorrer na
elaboração do planejamento e no suporte quanto à compreensão das
condições de aprendizagem dos alunos, como forma de auxiliar a equipe
pedagógica.
Outra atividade evidenciada pela prática inclusiva para favorecer o
educador é a adoção da práxis – no ensino, nas interações, no espaço e
no tempo – que relacione os diferentes conteúdos às diversas atividades
presentes no trabalho pedagógico. São esses procedimentos que irão
promover aos alunos a possibilidade de reorganização do conhecimento, à
medida que são respeitados os diferentes estilos e ritmos de
aprendizagem.
Vale ressaltar que a Educação inclusiva, como prática em construção,
está em fase de implementação. São muitos os desafios a serem
enfrentados, mas as iniciativas e as alternativas realizadas pelos
educadores são fundamentais. As experiências, agora, centralizam os
esforços para além da convivência, para as possibilidades de
participação e de aprendizagem efetiva de todos os alunos.
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